Informática para quem precisa se incluir
O papel e os desafios do Comitê pela Democratização da Informática (CDI)
O Comitê para Democratização da Informática (CDI), organização privada sem fins lucrativos que atua no combate a exclusão digital, surgiu em 1995, no Rio de Janeiro. O CDI iniciou seu trabalho pioneiro de levar computadores e conhecimento às populações excluídas quando Rodrigo Baggio idealizou o uso do computador como um canal de diálogo entre jovens de diferentes grupos sociais e criou a primeira Escola de Informática e Cidadania, na Favela Santa Marta, localizada no Rio de Janeiro
Antes da criação do Comitê, Baggio desenvolveu o projeto “Informática para todos”, que distribuía computadores e softwares para comunidades pobres, mas ele percebeu que, mais do que isso, as pessoas precisavam da educação. Assim, nasceram as escolas e o Comitê para Democratização da Informática, explicou Ricardo Schneider, coordenador do CDI-Rio. Desde o início, ficaram marcadas duas características fundamentais no trabalho do CDI: a ação em rede, por meio de parcerias na comunidade e com empresas, e a promoção da informática como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e comunitário. Este modelo demonstrou rapidamente suas qualidades de valorização do potencial da comunidade, o baixo custo e a pedagogia organizada, ganhando reconhecimento nacional e internacional.
Cursos de informática e cidadania
As Escolas de Informática e Cidadania (EICs) possibilitam às pessoas que fazem parte de comunidades pobres o acesso às técnicas e ao uso da informática, além de ajudarem os alunos a se conscientizar sobre a realidade em que vivem: eles são estimulados a refletir criticamente sobre suas necessidades e sobre a luta pelos direitos à cidadania. “As escolas são únicas e são encaradas assim pelo CDI. Cada uma é moldada de acordo com a realidade da comunidade”, reforçou Schneider.Como espaços informais de ensino criados por parcerias entre o CDI e organizações comunitárias ou movimentos associativos, as ECI’s procuram disseminar junto às comunidades o ensino técnico aliado a temas da realidade local. O computador é utilizado como meio para o conteúdo didático que promove a construção da cidadania, através do estímulo à reflexão e de discussões que envolvem temas como os direitos humanos, sexualidade, não-violência, ecologia e saúde.A abordagem do ensino de informática tem como base a valorização da relação construtiva e participativa entre professor e aluno. O conhecimento dos softwares e os debates resultam em projetos concretos para a comunidade: jornais comunitários, apresentações sobre a história do bairro, bancos de dados para a organização comunitária etc.O CDI presta assessoria administrativa às Escolas de Informática e Cidadania e trabalha na capacitação de educadores dentro da própria comunidade. Além disso, auxilia no desenvolvimento de metodologias e currículos específicos para diferentes grupos sociais. O Comitê também é responsável pelo direcionamento das doações de computadores, impressoras, softwares para as comunidades, além de ceder as apostilas para auxiliar o trabalho dos educadores. Schneider esclarece que o CDI não dirige nem sustenta as escolas. A função principal do Comitê é fornecer tecnologia e formação para os educadores e coordenadores, que são selecionados pela entidade atuante na comunidade e enviados para os centros de capacitação regionais do CDI, onde recebem treinamento. As EIC’s têm baixo custo operacional e são financeiramente auto-sustentáveis: mantidas por mensalidades (simbólicas), doações ou financiadas por instituições parceiras. Elas são gerenciadas pela própria comunidade e as mensalidades possibilitam a distribuição de aproximadamente 50% desta receita entre os educadores e a manutenção da escola. É importante notar que os alunos que não podem pagar não são impedidos de estudar, eles podem contribuir com as tarefas de funcionamento da escola, por exemplo.“São as comunidades que nos procuram e nós as selecionamos de acordo com pesquisas e avaliações que são feitas. São feitas pesquisas de viabilidade, além de um estudo das estratégias de sustentação local, antes de se instalar uma nova escola. Tudo porque elas são idealizadas para durar, são projetos que devem ser contínuos”, diz Ricardo Schneider.
Projetos especiais
Em nove anos de existência, o CDI já tem 708 Escolas de Informática e Cidadania no Brasil e está inserido em 20 estados do país. Seu trabalho já foi levado, também, a outros países da América Latina, África e Japão. E além das escolas criadas em comunidades carentes, o CDI tem projetos especiais em penitenciárias, aldeias indígenas, instituições para deficientes visuais e mentais, FEBEM e ONGs que cuidam de meninos de rua.Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o Comitê para Democratização da Informática criou a primeira Escola de Informática e Cidadania destinada aos portadores de transtornos psíquicos, localizada no Instituto Philippe Pinel, no Rio de Janeiro. O convívio com as novas tecnologias já capacitou alguns dos alunos para exercer atividades remuneradas na área da informática. É importante ressaltar que o êxito deste projeto se dá pelo fato de os próprios usuários das instituições psiquiátricas serem os educadores das mesmas.As Escolas de Informática e Cidadania em unidades penitenciárias investem na capacidade de reintegração dos presos através da capacitação em informática e manutenção de computadores. Qualificados a trabalhar na área de novas tecnologias quando obtiverem a liberdade, os internos podem repensar a vida e redirecionar seus caminhos com perspectivas mais concretas de inserção no mercado de trabalho. A primeira EIC em penitenciárias foi instalada na penitenciária Lemos de Brito, no Rio.
Desafios mais do que especiais
Com tantos projetos realizados quanto reconhecidos e premiados, o CDI busca definir e enfocar melhor o papel que a tecnologia cumpre para as pessoas envolvidas em suas atividades, pois cada vez mais entende-se que a inclusão digital deve ser compreendida num contexto mais amplo do que o da simples capacitação.Nesse sentido, inclui-se uma ampla pauta para fazer valer a democratização da informática, que vai desde a viabilidade de projetos sociais de tecnologia e a continuidade da formação de pessoal até a utilização de softwares livres para dinamizar a utilização do conhecimento apreendido em soluções interativas e compartilhadas.
5° período - Jornalismo